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- Feliz Ano Novo –
diziam as pessoas felizes na areia abarrotada.
Ela contemplava os fogos de artifício no céu, tentando
esquecer as coisas ruins, se lembrando apenas das coisas boas. Pulou 7 ondas e
se ajoelhou na areia molhada pelo mar, champanhe e cidra que eram derramados, e
pediu, ou melhor, implorou pra quem quer que estivesse ouvindo-a, desejou com
toda força de vontade que ainda lhe restava no coração de pedra que o ano que
estava chegando fosse melhor, muito melhor que o ano anterior. Ela chorou, com
todas as lágrimas que tinha, chorou até não haver mais água em seu corpo.
Sentiu sede, se juntou a um grupo qualquer de pessoas felizes apenas para beber
o vinho barato que estavam dividindo, era horrível, mas era álcool. Fez o mesmo
com mais uns 3 grupos, depois parou de contar, ficou bêbada e cansada. Sentou
em um canto qualquer perto de uma barraca fechada, encostou a cabeça e apagou.
- Bom dia – disse um
rapaz que colocava cadeiras, mesas e guarda-sóis na areia, agora vazia.
O sol estava forte e amarelo, sua pele queimava, olhou com
desdém para o cobertor feio e rasgado que lhe cobria.
- Estava bem frio de
manhã – disse o rapaz percebendo o olhar dela em direção ao cobertor que
parecia um pano de chão.
- Obrigada – disse
ela com a voz fria e rouca.
Sua cabeça doía da bebida da madrugada, seu corpo e pescoço
doíam devido ao mau jeito que dormiu.
- Que dia é hoje? –
perguntou grossa e mal educada.
- 1º de Janeiro – o
rapaz se mantinha simpático e sorridente.
Ela respirou com
alívio, se lembrando de quando foi a uma festa, bebeu e acordou dois dias
depois em outro país. Tentou se levantar.
- Deixa que eu ajudo
– o rapaz segurou sua mão e ombro, equilibrando-a a seu lado – Você está bem?
- Estou – eles caminharam
até a cadeira mais próxima e ela sentou. E pela primeira vez realmente olhou o
rapaz que a ajudará. Ele era alto, moreno, forte, tinha olhos levemente puxados
e um sorriso muito bonito. Não era de se jogar fora.
- Meu nome é Miranda
– disse ela estendendo a mão direita.
- Felipe – ele
segurou e beijou delicadamente as mãos sujas de areia e outras coisas que nem
ela sabia.
Ela ficou lisonjeada e levemente desconcertada pela atitude
do rapaz, ainda mais nesse país de pessoas sem bons modos, mas ela não é de se
derreter pelo primeiro par de calças galanteador que encontra.
- Você quer alguma
coisa? – disse o rapaz galante
- Um café cairia
muito bem – respondeu colocando as mãos na cabeça como se isso fizesse a dor de
cabeça da ressaca parar.
- Ressaca? –
perguntou Felipe levantando uma sobrancelha.
- É, mas já tive
piores.
- Vou trazer seu café
– disse e foi andando em direção a barraca.
- Espere, eu não
tenho dinheiro – disse Miranda desconfortável por não ter um trocado sequer.
- Não se serve café
na praia. É por conta da casa – riu e foi para a barraca.